– INFORMAÇÕES GERAIS –
Em sua 2ª edição, o festival, agora em três dias, contou com 34 cervejarias, food trucks, shows de diversas bandas e o 17º Encontro de Colecionáveis Cervejeiros. Realizado entre os dias 10 e 12 de agosto no Centro de Eventos Fiergs, em Porto Alegre/RS, o evento disponibilizou quatro mil litros de cerveja artesanal para um público que chegou a seis mil pessoas. Nessa edição, as cervejarias latino-americanas marcaram presença por meio das colaborativas com as brasileiras.
Lembrando as melhorias na infraestrutura dessa edição, como área dos food trucks, ampliação dos dias e do espaço, além da manutenção do espaço kids e da chapelaria, Fabrício Scalco, diretor da organizadora Scalco Produções e editor da Revista da Cerveja, aposta no crescimento do evento. “Estamos na segunda edição do festival, que está engatinhando no porte, tendo muito a construir e melhorar. Mas a proposta é integrar o mercado cervejeiro sul-americano”, diz. “De várias formas, o mercado nacional tem a aprender com o mercado argentino, chileno, uruguaio — basta citar a questão dos lúpulos, que na Argentina já é muito forte. O evento busca criar um intercâmbio nessas situações. Da mesma forma, o mercado nacional tem muitas oportunidades de negócios, como em equipamentos para exportação, então essas cenas convergem para bons negócios, cultura e conhecimento.” Fabrício destaca a presença argentina no evento por meio de cervejas colaborativas, como a IPA Argenta, feita com lúpulos hermanos pela Lohn Bier (SC) e a Peñon (ARG), e a PIPA, parceria entre Zapata (RS), Anuario Cervecero (ARG) e o mestre-cervejeiro Emilio Ghirard, da Dolvers (ARG) também com lúpulos argentinos.
PARCERIAS CONCRETAS
Exemplo da busca por essa integração cervejeira sul-americana é a colaborativa feita pelas cervejarias Buda Beer (RJ) e Bierhaus (ARG). O resultado é a SuperStar IPA, com 40 IBU e 5,5% ABV. Daniel Eiterer, sócio da Buda, conta que a ideia surgiu com Jose Bini, um dos sócios da Bierhaus. “Ele estudou comigo no Siebel Institute de Chicago (EUA) e perguntou se poderíamos fazer uma colaborativa para expor ambas as marcas em um festival com uma boa proposta, como o Sul-Americano, que tem tudo para crescer nos próximos anos. A base da receita é uma American IPA com lúpulos americanos e explosão de aromas cítricos.” A ideia, acrescenta, é fazer uma colaborativa todos os anos para apresentar novidades nas próximas edições.
CERVEJAS SERRANAS
COLABORATIVAS A PLENO
“O Sul-Americano é isso: várias cervejarias juntas contando suas histórias com muita criatividade, frutas, especiarias e muitas colaborativas. A Lohn Bier tem essa prática de fazer colaborativas, e é muito legal estar no RS, estado que nos acolhe bem. Somos uma marca muito simpática por aqui — não poderíamos deixar de vir”, diz Richard Westphal, sócio e cervejeiro da catarinense. A parceria com os argentinos já vem de tempos: “Ano passado, eu e o Rubens Angeloti, da Blend Bryggeri (SC), fizemos uma trip na Argentina para buscar barris de madeira, e na viagem esbarramos nas cervejarias e já projetamos três colaborativas. Com a cervejaria Peñon ficou uma amizade muito grande, na época fizemos uma Brown Ale”. Depois disso, mais experiências com a parceria e uma nova colaborativa, a IPA Argenta presente no Sul-Americano, com quatro lúpulos patagônicos: Mapuche, Cascade, Victoria e Trafful. “Os argentinos recebem os brasileiros muito bem, somos muito bem tratados nas cervejarias, são super hermanos, foi muito divertido.” Participando pela primeira vez do festival, a Cerveja Petra (RJ), do Grupo Petrópolis, também patrocinadora do evento, aproveitou a oportunidade para investir na política de ganhar mercado e divulgar a marca. “Nós abraçamos (o evento) porque viemos ao encontro do consumidor, e ele começou a entender que tipo de cervejas são essas. Nosso lema é ir ao encontro deles. Estamos abraçando o Sul do Brasil: começamos em Santa Catarina, em Blumenau, fomos bem recebidos lá e aqui estamos sentindo a mesma coisa”, disse Rüdiger Görtz, mestre-cervejeiro do Grupo Petrópolis. Para o festival, a Petra trouxe os chopes Aurum, Bock, Coffee Stout, Kellerbier, Schwarzbier, Stark Bier e Weiss Bier.
ASSOCIAÇÃO PRESENTE
A Associação Brasileira de Cerveja Artesanal (Abracerva) resolveu apoiar o Sul-Americano e esteve com estande durante os três dias. Carlo Lapolli, presidente da entidade, resumiu o valor de estarem presentes: “É importante acompanhar o trabalho das cervejarias e elas acompanharem a Associação. Essa presença mais na ponta é fundamental para crescermos e ganharmos representatividade, e o consumidor identificar e começar a entender um pouco disso. Também para ouvir a demanda das cervejarias e as suas ideias. Essa dialética acaba crescendo no nosso movimento. Nossa participação está sendo bastante positiva — é importante as cervejarias verem de perto o trabalho da Abracerva.” Aproveitou também para registrar uma série de ações da associação, como a primeira Copa Cerveja Brasil e anunciar o próximo Congresso de Sommeliers de Cerveja para 2019, assim como o exame Taster Validation da Flavor Activ, que será aplicado no Brasil.
EXPECTATIVAS E OPORTUNIDADES
Com muita expectativa para o festival, a porto-alegrense Staunen Bier levou o seu mais novo lançamento, a Hop Red, uma cerveja estilo americano, forte e marcante. Com 5% ABV e 35 IBU, criada pelo mestre-cervejeiro Lisandro Fleck, o destaque é o uso de lúpulos nobres e o dry hopping com lúpulos cítricos. Para Cassiane Fleck, sócia da Staunen, o Festival Sul-Americano é a oportunidade de ter no RS um evento tão bom quanto o de Blumenau/SC. “É uma ótima chance para os consumidores. Como as datas desses dois eventos são diferentes, oportuniza a ambos, cervejaria e consumidor, vivenciarem essas experiências. E é uma excelente oportunidade para quem quer divulgar sua cerveja e para o consumidor final”, diz. Uma das precursoras no olhar latino-americano do meio cervejeiro, a Zapata, farm brew da área rural da cidade de Viamão/RS, já vem aprofundando parcerias no continente desde o primeiro festival de 2017, quando lançou a Los Pueblos Hermanos, American Wheat feita com a Blest (ARG), e a El Cruce, Imperial Belgian Stout com a Berlina (ARG). Nesse ano, as colaborações argentinas foram com o Anuario Cervecero e o mestre-cervejeiro Emi, da Dolvers, para produzir a PIPA — Patagonian IPA. “Cerveja de coloração âmbar e colarinho branco, com aroma floral, herbal e cítrico, feita com lúpulos Nugget, Cascade, Trafful e Mapuche”, conta Felipe Araújo de Paula, sócio e cervejeiro da Zapata. A ideia, diz, é enlatar todas essas colaborativas até o fim do ano.
SHOWS E COLECIONISMO
Os amantes de música tiveram um bom cardápio no Sul-Americano: as bandas covers AC/DC e Creedence empolgaram o público, que também aproveitou o som autoral dos músicos Bruno de Ros, Bibiana Petek e Rafael Malenotti (vocalista da Acústicos e Valvulados). Carlos Armando le Pera, argentino que é professor de tango, encantou o público dançando com Edilenia Antonini no hall de entrada. Foi ali também, no sábado, que aconteceu o 17º Encontro de Colecionáveis Cervejeiros, já incorporado ao festival. Organizado pelo clube de colecionadores de itens cervejeiros do RS, Tcherveja, o encontro contou com 25 expositores — entre brasileiros, argentinos, chineses, uruguaios — e teve o seu tradicional leilão de itens cervejeiros raros. Ronaldo Lague, presidente do Tcherveja, conta que o encontro foi um pouco menor que o do ano anterior, porque pouco antes do Sul-Americano aconteceu um encontro de colecionadores no Paraguai. Mesmo assim, ele considera o festival um projeto que deu muito certo em 2017: “Já posso dizer que foi uma consagração. Ano que vem espero uma participação muito maior que esse ano”. Um sentimento, aliás, comum a todos que dele participaram. Na busca pela integração do movimento cervejeiro latino-americano, a organização do festival prevê a participação de muitas cervejarias do continente para a edição de 2019.